Vol. 11 No. 19 (2022): Trabalhadores (na EJA) do Brasil
Trabalhadores (na EJA) do Brasil: desafios de quem aprende (e ensina) enquanto trabalha
Caros leitores,
É com muita satisfação que a edição de número 19, do primeiro semestre de 2022, está sendo lançada. Fazemos, em tal edição, uma homenagem a nossos alunos de EJA, trabalhadores que aprendem (e nos ensinam) enquanto trabalham.
Com esta finalidade de homenagem aos trabalhadores brasileiros na EJA, comemorando o dia 1º de maio, dia dos trabalhadores em nosso país, e também em deferência (e reverência) aos 100 anos da Semana de Arte Moderna em 1922, nossa edição 19 aborda, em sua capa, uma releitura da obra de arte “Operários” (1933), de Tarsila do Amaral.
Procuramos relacionar tal obra ao contexto histórico-social de nossos alunos de EJA no Brasil, isto é, no quadro da pintora modernista, mostram-se as várias faces dos trabalhadores do Brasil na década de 1930. Mas como seriam as faces dos trabalhadores-educandos brasileiros em 2022? Este é o primeiro número da revista em que pudemos respirar com menos medo (em sentido literal), por conta da vacinação contra a COVID-19. Assim, as máscaras puderam ser retiradas (também no sentido estrito) e pudemos ver integralmente as faces dos nossos educandos de EJA em sala de aula.
Observamos (com o lugar de fala de educação atuante na EJA) que esses educandos apresentam diversas facetas, contudo, não obstante sua multiplicidade de etnias, idades, identidades e histórias, apresentam como ponto em comum a característica (com raras exceções) de serem trabalhadores. Assim, o educador que trabalha com EJA não pode agir de modo descolado a esta realidade de seus educandos-trabalhadores, pensando estratégias de ensino que mais se adequem a esse contexto.
Esses sujeitos que nos são destinados na EJA, além de serem aprendizes, são também “ensinantes”, ao nos apresentarem conhecimentos a cada dia de aula, conhecimentos empíricos, construídos na luta de seu trabalho diário. São empregadas domésticas, pedreiros, eletricistas, agricultores e tantas outras profissões que exercem nossos estudantes de EJA e nos possibilitam traçar diálogos frutuosos, de intenso e imenso aprendizado multilateral em sala de aula.
Mas é exatamente essa particularidade do trabalho que os faz tão profícuos em nos ensinar que também os impossibilita de se dedicar integralmente aos estudos. Nesse contexto, o educador de EJA se encontra sempre numa posição delicada, em que luta para que seus estudantes tenham direito pleno à educação e construam o máximo possível de conhecimentos, mas também precisa ser empático com a realidade de trabalho, muitas vezes até extenuante, na qual tais educandos estão inseridos.
E é justamente neste aspecto que nós, educadores de EJA, continuamente nos questionamos: como proporcionar uma educação de qualidade, que é direito de todos, e que possibilite – aos educandos-trabalhadores – caminhos de ascensão social, ao mesmo tempo em que se respeita a condição de cansaço da classe trabalhadora e se compreende a limitação de tempo para estudos fora do ambiente escolar?
Esta problemática tem constantemente angustiado educadores de EJA comprometidos com uma educação emancipatória como direito, e esperamos que os textos que constituem esta edição da revista possam trazer alguns horizontes, ou, talvez, ainda mais indagações e inconformação àqueles que se dedicam ao desafio da dodiscência (FREIRE, 1996) voltada ao público de jovens e adultos.