AVIFAUNA APREENDIDA NO EXTREMO SUL CATARINENSE DURANTE 8 ANOS DE INSTALAÇÃO DO 10º BATALHÃO DA POLÍCIA MILITAR DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE MARACAJÁ

Autores

  • Ivan Réus Viana Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC
  • Jairo José Zocche Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

Resumo

INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta uma rica avifauna. Aqui se encontra mais da metade das espécies que ocorrem no continente Sul-Americano (ANDRADE 1995). Porém, a fauna brasileira vem sofrendo profundos impactos provocados pela ação humana resultando em perda da biodiversidade, extinção e degradação ambiental. A captura desordenada de aves silvestres gera ameaça para muitas espécies (COIMBRA-FILHO 1986). O elevado número de indivíduos capturados no Brasil, sendo os animais mais procurados com representatividade de 82% de um total de 36.370 espécimes de animais apreendidos nos anos de 1999 e 2000, ocorrendo preferência, principalmente, por conta da sua beleza, seu canto, sua diversidade e pela capacidade de se tornarem animais de estimação (FERREIRA & GLOCK 2004). O objetivo do presente trabalho foi analisar os dados obtidos a partir das atividades de fiscalização e recolhimento de aves silvestres pelo 10º Batalhão da Polícia Militar de Proteção Ambiental de Maracajá, durante os anos de 2004 á 2011, para elaboração de um diagnóstico de apreensão da região.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado a partir das informações registradas nos Termos de Apreensões (TADs), Boletim de Ocorrência (BO) ou Auto de Infração (AI) entre os anos 2004 e 2011 emitidos pelo 10º Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental de Maracajá, dos quais foram coletados os dados sobre o número do auto de infração, quando este foi gerado, a data em que as aves foram apreendidas, a identificação da espécie, o local da apreensão (coordenadas geográficas), veiculo usado para manter os espécimes, a quantidade por espécie e o destino das aves (soltura ou CETAS).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante esse período, foram apreendidas 1.360 aves, compreendendo 54 espécies distribuídas em 21 famílias e 9 ordens. Predominaram indivíduos da ordem Passeriformes (91,8%), da família Emberizidae (45,1%) do gênero Sporophila (28,4%), seguido das aves da família Thraupidae (32,3%) do gênero Saltator com 25,1%. Essa predominância também é observada tanto no âmbito estadual como nacional, o que demonstra a preferência por espécimes desses táxons. As espécies Sporophila caerulescens (n=386) e Saltator similis (n=342) corresponderam a 53,53% dos 1.360 espécimes apreendidos. Se o nível de exploração exceder à capacidade natural de reposição das espécies nas populações, há portanto uma tendência de desaparecimento regional da espécie através dos tempos. Situações intrínsecas envolvem S. caerulescens e S. similis mediante a compreenderem 55,5% dos espécimes devolvidos em seu habitat natural muitas vezes sem um diagnóstico preciso sobre a sua real condição, levando assim riscos sanitários para as espécies silvestres. Outro fator que necessita de atenção esta ligado ao envio destes espécimes para o CETAS localizado na capital catarinense distante 211 Km da sede do 10º Batalhão, contando com 68,3% dos espécimes enviados para a recuperação e posterior soltura, dessa forma as populações de S. caerulescens e S. similis na região do extremo sul catarinense perdem em números de exemplares in natura e na diversidade gênica transferida e não realocada. Nos municípios de Criciúma (n=351), Araranguá (n=153) e Siderópolis (n=92) ocorreram as maiores apreensões. A presença das espécies Gubernatrix cristata, Ara ararauna, Aratinga aurea, Saltatricula atricollis, sugere a vinda de aves de outros estados e regiões. Foram registradas três espécies com níveis de ameaça: Gubernatrix cristata, Procnias nudicollis e Tinamus solitarius, além de 6 espécies endêmicas da Mata Atlântica.

CONCLUSÃO

Os dados apresentados mostraram a preferência da população por espécies canoras tanto pela admiração ao canto, quanto para alimentar o comércio ilegal. Essas informações servem para direcionar estudos mais aprofundados sobre a situação dessas espécies em seu habitat natural, que visem à verificação de possíveis alterações na sua abundância ou tamanho populacional nas diferentes regiões do estado e principalmente a verificação da qualidade genética. Tais informações são essenciais para avaliar com maior profundidade os efeitos sobre as populações de espécies nativas do estado e nortear programas de conservação das espécies.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. A. (1995) Lista de campo das aves no Brasil, v. 1. Belo Horizonte: Editora Fundação Acangaú.

COIMBRA-FILHO, A. F. (1986) "O aspecto negativo da participação de pássaros de procedência selvagem em competições de canto", v. 5. Rio de Janeiro: Editora Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza.

FERREIRA, C. M. & L. GLOCK (2004) Diagnóstico preliminar sobre a avifauna traficada no Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociências 12: 21-30.

Biografia do Autor

Ivan Réus Viana, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

Graduando do Curso de Ciências Biológicas - Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC; Bolsista de Iniciação Científica do Laboratório de Ecologia de Paisagem e de Vertebrados (ênfase em Ornitologia: Biologia reprodutiva de Myiopsitta monachus; levantamentos e distribuição da avifauna no extremo sul de Santa Catarina utilizando listas de Mackinnon); Ecologia de Paisagem e manjeto de ecossistemas alterados (ênfase em metais pesados no solo, plantas e animais em áreas de mineração de carvão).

Jairo José Zocche, Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

Graduado em Ciências Habilitação Biologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (1984), mestre em Ecologia, pelo PPG-ECO, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989), doutor em Ciências pelo PPG-BOTÂNICA, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002) e Pós-Doutor em Biologia da Conservação de Cinclodes pabsti Sick, 1969 (Furnariidae) pelo Departamento de Zoologia da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (2011). Atualmente é professor titular da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Professor visitante do Doutoramento em: Quaternário: Materiais e Culturas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Portugal. Anilhador sênior credenciado junto ao SNA CEMAVE. Tem experiência na área de Ecologia, atuando em: Ecologia de Paisagem e de Vertebrados (ênfase em herpetologia, Ornitologia e mastozoologia); Ecologia e manejo de ecossistemas alterados (ênfase em metais pesados no solo, plantas e animais em áreas de mineração de carvão) e; Gerenciamento Territorial.

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Publicado

2012-11-07

Edição

Seção

RESUMOS